15

Expiação vicária pelo “Sangue do cordeiro”

Por Jerald F. Dirks, Mestre em teologia e Doutor em psicologia

INTRODUÇÃO

A doutrina da expiação vicária assumiu formatos diversos no cristianismo do ocidente (católicos romanos e protestantes) e do oriente (ortodoxos). No cristianismo oriental, a salvação é geralmente vista como uma dádiva de imortalidade e santidade concedida ao homem por Deus em decorrência da vitória de Cristo sobre a morte na ressurreição da Páscoa. Em contraste, o cristianismo ocidental tem tipicamente ressaltado a morte de Cristo na cruz como a expiação dos pecados da humanidade e como a reconciliação entre Deus e o homem, após um distanciamento que houve desde que a “queda inicial de Adão em desgraça” por ter comido do fruto proibido. Dada essa distinção, o conceito de expiação vicária pelo “sangue do cordeiro” encontra sua expressão mais completa no cristianismo ocidental.

O CRISTIANISMO OCIDENTAL E A EXPIAÇÃO VICÁRIA

Pouco suporte bíblico para a doutrina da expiação vicária pode ser encontrado no evangelho do Novo Testamento e o que existe é bastante ambíguo em termos de conteúdo e significado (p. ex, Marcos 10:45 e 14:22-24; e João 1:29). Assim, é basicamente nas epístolas do Novo Testamento que se pode encontrar a fundamentação bíblica para a expiação vicária, cujos pontos principais estão narrados a seguir.

1) Toda a humanidade é feita de pecadores que estão aquém da salvação e da misericórdia e graça de Deus (Romanos 3:23). 2) Em parte, somos todos pecadores sem esperanças, devemos morrer e sermos punidos, pois “herdamos” o pecado original de Adão (Gênesis 3:1-19; Romanos 5:12). 3) Acreditar em Deus e seguir Suas leis e mandamentos não é o suficiente para obter a salvação (Gálatas 2:15-21 e 3:10a). 4) Cristo morreu na cruz em sacrifício de sangue por nossos pecados e para nos aliviar do fardo do pecado original (Romanos 3:23-25 e 5:8; Hebreus 10:10; I Coríntios 15:3 e 11:24-25; I Tessalonicenses 5:9-10; I Pedro 2:24 e 3:18; e I João 1:7). 5) Pelo sacrifício de sangue de Jesus Cristo, nos reconciliamos com Deus (Romanos 5:12-14; I Pedro 3:18) e nos livramos do dever de seguirmos a Lei Mosaica (Gálatas 3:10-13; Romanos 3:28 e 7:6), desde que acreditemos no dito sacrifício de Jesus na cruz.

Como se pode perceber nos versículos acima, a doutrina da expiação vicária se baseia em uma série de pressupostos, inclusive os de que: 1) Jesus Cristo foi de fato crucificado, 2) A crucificação era parte da missão divina de Jesus, 3) Aquele homem estava irremediavelmente se afastado de Deus, devido ao pecado original de Adão, 4) Seguir as leis divinas não bastava, e 5) Apenas um sacrifício vicário e intercessório poderia reconciliar Deus com os homens. Cada uma dessas premissas será examinada em contrapartida.

O EVENTO DA CRUCIFICAÇÃO

Fora do âmbito do Novo Testamento, parecem haver apenas duas referências à crucificação de Jesus em todos os registros históricos do século I. O primeiro deles foi feito por Flávio Josefo, historiador judeu do século I, e o segundo por Tácito, romano dos séculos I e II. Nenhum dos dois autores, porém, testemunhou o evento da crucificação. Além disso, a maioria dos estudiosos bíblicos sustentam que nenhum dos autores do Novo Testamento que escreveram sobre o evento da crucificação de fato testemunhou o evento. Apesar disto, o típico cristão insiste com veemência que qualquer tentativa de questionar a crucificação de Jesus deve fornecer um impressionante volume de documentos de que houve sérias controvérsias quanto a Jesus ter de fato sido crucificado ou não. “Onde está essa documentação?” – eles perguntarão. Embora possa ser um choque para a maioria dos cristãos, a resposta é que esses documentos encontram-se nas escrituras da próprio cristianismo antigo.

As escrituras dos Padres Apostólicos frequentemente citavam a existência de seitas cristãs que rejeitavam a proposição de que Jesus havia sido crucificado. Essas referências podem ser encontradas nas escrituras de Inácio, Policarpo, Justino, Irineu, Tertuliano e Hipólito. Como exemplo específico, podemos recorrer a Tralianos, livro de autoria de Inácio, bispo de Antioquia, que morreu por volta do ano 110.

Inácio escreveu que havia cristãos, nos tempos em que viveu, que negavam que Jesus havia sido crucificado de fato, e mantinham que ele havia sido crucificado apenas de forma aparente ou ilusória. Inácio não poderia estar atacando uma crença entre os cristãos antigos que de fato ainda não existia. Seu ataque contra os cristãos antigos que acreditavam que a crucificação de Jesus foi apenas ilusória demonstra a existência dessa crença entre os cristãos antigos já no ano 110, isto é, à época da morte de Inácio. Além disto, o fato de Inácio ter tido pelo menos o trabalho de atacar essa doutrina sugere que a crença na natureza ilusória da crucificação era bastante difundida na época.

Além disto, uma pesquisa cautelosa revela diversas obras apócrifas, outrora aceitas pelos cristãos antigos, declarando que não foi Jesus Cristo quem foi crucificado. Por exemplo, o Apocalipse de Pedro 81:4-82:33 sustentava que Jesus foi apenas aparentemente crucificado, não de fato, tendo sido um substituto ou simulacro de Jesus o verdadeiro crucificado. Da mesma forma, o Segundo tratado do grande Seth 55:10-56:25 declara que não foi Jesus quem foi crucificado, e sim Simão (presume-se que se trate de Simão de Cirene, identificado em Mateus 27:32, Marcos 15:21, e Lucas 23:26 como a pessoa que carregou a cruz de Cristo para ele) e que Simão foi confundido com Jesus na cruz. Este posicionamento – de que foi Simão de Cirene o crucificado no lugar de Jesus – foi um dos princípios cardeais de um grupo de cristãos antigos conhecido como Basilidianos, que prosperaram no Egito, durante o século II, e que alegavam que seus conhecimentos se baseavam diretamente nos ensinamentos de Glaucias, o suposto intérprete de Pedro, discípulo de Jesus Cristo. Adicionalmente, os Atos de João 97-101 relatam que a crucificação de Jesus foi uma ilusão.1

Não é apenas nas escrituras chamadas apócrifas que se podem encontrar evidências de que não foi Jesus o crucificado. Mateus 27:11-26 declara que Pôncio Pilatos, o governador romano da Judéia, deu ao povo a opção de libertar “Jesus, o chamado Messias” ou “Jesus Barrabás” (qualquer cristão que tenha dúvidas quanto ao nome “Jesus Barrabás” poderá consultar a nova versão padrão revisada de Mateus 27:17 para identificá-lo, pois esta se baseia em alguns dos textos mais antigos deste versículo que sobreviveram.) Mateus prossegue, dizendo que o povo escolheu Jesus Barrabás e que Pilatos então libertou Barrabás. Note-se que Barrabás, ou seja, “bar Abbas”, não é um nome próprio e sim um patronímico, isto é, uma declaração de que a pessoa é filho de fulano ou beltrano. Ao se traduzir o nome do idioma aramaico, a língua falada por Jesus, “bar Abbas” pode ser traduzido como “filho do pai.” Em resumo, Mateus diz ao leitor perceptivo que Pilatos libertou “Jesus, o filho do pai” e condenou um outro Jesus, que se dizia o Messias, isto é, o ungido. A palavra hebraica da qual deriva o termo “Messias” significa “o ungido”. Os ungidos de Israel eram os reis daquela nação, os altos sacerdotes e alguns dos profetas de Israel. Portanto, pode-se argumentar convincentemente que o prisioneiro condenado foi um Jesus revolucionário que dizia-se rei de Israel, ao tempo que o Jesus que foi libertado era o “filho do pai”. O nome Jesus é a versão em grego de Joshua, que era um nome bastante comum naquela época.

Então, quem era quem? Isto ajuda a explicar por que Pôncio Pilatos foi canonizado como santo pela igreja ortodoxa cóptica? Alguém justifica a santidade para o homem que condenou Jesus ou para o homem que o libertou? Certamente, Mateus levantou a veríssima questão de quem foi de fato libertado e quem foi de fato crucificado.

A MISSÃO DE JESUS

Se Jesus não foi crucificado, o que isto quer dizer em relação à doutrina cristã da expiação pelo sangue? Afinal, não foi a crucificação de Jesus o pináculo-mor de sua missão divina? Não foi uma parte absolutamente indispensável de sua obra divina? Ao tratar dessas questões, deve-se apenas recorrer ao Novo Testamento para se descobrir o que Jesus, segundo as escrituras, disse a respeito dessas mesmas questões. Sua resposta parece ter sido relatada em uma oração atribuída a Jesus no evangelho de João. Dando à oração a devida importância, João a cita antes do evento da crucificação.

E esta é a vida eterna: que vos conheçam como único Deus, e a Jesus Cristo, a quem enviastes. Eu vos glorifiquei na terra: Eu concluí a obra de que me incumbistes. (João 17:3-4)

“Eu… concluí a obra de que me incumbistes” e o fiz antes do evento da crucificação. Conforme relatado por João, Jesus excluiu especificamente o evento posterior da crucificação e alegou sua ressurreição como parte da “obra de que me incumbistes.” Isto seria igualmente uma negação de qualquer possibilidade de que a “expiação pelo sangue” tenha sido de qualquer forma parte da missão ou da obra de Jesus Cristo.

De algum interesse em relação a esse último ponto, Orígenes, talvez o maior teólogo cristão do século III, rejeitou especificamente o conceito de que a salvação veio por meio da alegada crucificação de Jesus, e realçou que a salvação seria meramente contingente ao devido exercício do livre arbítrio pelo próprio homem, isto é, pela devida crença e por seus atos.

O PECADO ORIGINAL

A doutrina do pecado original é um conceito inteiramente ocidental, derivado principalmente de uma interpretação consideravelmente idiossincrática de Romanos 5:12-19 e tem como base a pressuposição de que todo ser humano herda o pecado da “queda inicial de Adão em desgraça” por meio da concepção gerada por uma relação sexual, um ato que, segundo Santo Agostinho, foi contaminado pela “concupiscência.” Assim, conforme o cristianismo ocidental tradicional, toda a humanidade herda o pecado original de Adão, comendo do fruto proibido ao ser concebida por um ato sexual. É necessário ressaltar, neste ponto, que a herança e o conceito do pecado original são completamente contrários aos ensinamentos religiosos do cristianismo oriental, do judaísmo e do islamismo, mas são inerentes ao cristianismo ocidental.

Conforme tipicamente retratado na literatura cristã ocidental, “a queda inicial de Adão em desgraça” foi um evento cataclísmico, resultante das seguintes punições severas que recaem sobre a humanidade desde então: 1) Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden e foram para sempre banidos do paraíso (Gênesis 3:22-24); 2) Adão e seus descendentes homens foram especificamente punidos, sendo forçados a cultivar da terra “maldita” para se sustentarem, por meio da “dor” e do “suor de seus rostos” (Gênesis 3:17-19); 3) Eva e suas descendentes mulheres foram punidas pela dor física do parto e ao serem dominadas eternamente por seus maridos (Gênesis 3:16); 4) Toda a humanidade é punida, sujeitando-se o homem à morte ao final de sua vida no mundo terreno (Gênesis 3:22-24).

Segundo a doutrina tradicional cristã, “a queda inicial de Adão em desgraça” não foi diretamente atribuível a qualquer falha moral ou espiritual de Adão, e sim especificamente secundária à fraqueza ética e religiosa de Eva, que, tendo sido enganada por Satanás, enganou em seguida seu marido. Não fosse por Eva, Adão jamais teria caído em desgraça. Assim, todo o tormento e todo o sofrimento da humanidade desde a fatídica primeira mordida no fruto proibido podem ser atribuídos diretamente a Eva e, por intermédio dela, a todas as mulheres.

Pois Adão foi criado antes e Eva somente depois. E Adão não foi enganado; foi a mulher enganada que cometeu a transgressão. Não obstante a isto, ela há de se salvar ao dar à luz, desde que se mantenha em fé, caridade, santidade e sobriedade. (I Timóteo 2:13-15)

Eva enganou Adão, que era seu superior moral e espiritual. Foi Eva quem sucumbiu às tentações de Satanás, não Adão. Desta forma, a única esperança de Eva para se salvar, e depois dela, a de todas as mulheres, seria passando pelo sofrimento da citada dor física do parto. Porém, os versículos acima de I Timóteo são apenas o ponto de partida do processo pelo qual o cristianismo ocidental tradicionalmente tentou colocar a culpa de todos os pecados da humanidade nas mulheres. O conceito cristão ocidental de que a mulher deve ser culpada pelo pecado original foi ainda mais elaborado pelos santos e teólogos do cristianismo ocidental antigo, como Tertuliano (De Cultu Feminarum) e Santo Agostinho (Enchiridion, capítulo 26; carta nº 243; e Interpretação literal do Gênesis.)

Apesar de Romanos 5:12-19 e do pensamento dos teólogos antigos do cristianismo ocidental, há diversas referências bíblicas que geram muitas dúvidas sobre a existência de qualquer embasamento para a doutrina do pecado original.

Os pais não devem morrer por seus filhos, nem devem estes morrer por seus pais: cada homem há de ser morto por seus próprios pecados. (Deuteronômio 24:16)

A alma pecadora, esta deve morrer. O filho não deve arcar com a iniquidade do pai, nem deve o pai arcar com a iniquidade do filho: a justiça dos justos recairá sobre eles e a crueldade dos cruéis, igualmente. Mas se o cruel se afastar de todos os pecados que tenha cometido, e cumprir todos os meus estatutos, e fizer o que é lícito e correto, este há de viver; este não morrerá. (Ezequiel 18:20-21)

Além disto, a razão nos leva a crer que não seremos responsabilizados e julgados com base no que nosso progenitor original tenha feito. A justiça mais básica não nos permite outra conclusão.

LIVRE DA LEI

Conforme visto anteriormente, Paulo passou por grandes dificuldades para frisar que o evento da crucificação libertou a humanidade de seguir os preceitos da lei divina. Mas o posicionamento de Paulo implica forte contraste às palavras proferidas por Jesus Cristo.

Não penseis que vim para destruir a lei ou os profetas: Não vim para destrui-la, e sim para cumpri-la. Em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nenhuma letra minúscula e nenhum risco mínimo jamais passarão pela lei, sem que tudo seja cumprido. Portanto, aquele que violar ao mínimo esses mandamentos, e assim ensinar a outros homens, será considerada a mais ínfima no reino dos céus… (Mateus 5:17-19a)

…observai os mandamentos. (Mateus 19:17)

Entretanto, é mais fácil o céu e a terra terem um fim do que uma parte ínfima da lei falhar. (Lucas 16:17)

SACRIFÍCIO INTERCESSÓRIO

Pode alguém de fato ser sacrificado pelos pecados de outrem? Os seguintes versículos bíblicos parecem ser uma resposta negativa e realçam que cada pessoa deve pagar o preço por seus próprios pecados.

Os pais não devem morrer por seus filhos, nem devem estes morrer por seus pais: cada homem há de ser morto por seus próprios pecados. (Deuteronômio 24:16)

…apenas a pessoa com pecados deve morrer. (Ezequiel 18:4b)

A alma pecadora, essa deve morrer. O filho não deve arcar com a iniquidade do pai, nem deve o pai arcar com a iniquidade do filho: a justiça dos justos recairá sobre eles e a crueldade dos cruéis, igualmente. Mas se o cruel se afastar de todos os pecados que tenha cometido, e cumprir todos os meus estatutos, e fizer o que é lícito e correto, este há de viver; este não morrerá. De todas as transgressões que tenha cometido, não haverá menção contra ele; pela justiça que praticou, ele há de viver. (Ezequiel 18:20-22)

Além disto, Jesus parece ter rejeitado o sacrifício intercessório pelos pecados, ao ter ensinado, conforme as escrituras, que o caminho para a salvação era cumprir os mandamentos.

…aquele, porém, que os cumprir e ensinar será considerado grande no reino dos céus. (Mateus 5:19b)

E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus: Se queres, porém, entrar na vida, cumpre os mandamentos. (Mateus 19:16-17)

UM EXEMPLO HIPOTÉTICO

Considere o seguinte exemplo hipotético: Algumas pessoas fizeram algo de errado contra você. Esse ato indevido é tão angustiante para você que você não é capaz de ver seu coração jamais perdoando essas pessoas. Você simplesmente não tem qualquer misericórdia por aqueles que fizeram mal a você. Porém, você envia seu filho ao encontro deles, para admoestá-los. Em resposta, as mesmas pessoas matam seu filho da maneira mais hedionda possível. Em decorrência do sofrimento e da morte de seu filho nas mãos dessas pessoas, você agora está cheio de amor e misericórdia por elas, portanto será finalmente capaz de perdoá-las. Agora você pode perdoá-los porque eles mataram seu filho. Esse cenário realmente faz o mínimo sentido? Entretanto, é isto exatamente o que a doutrina da expiação vicária pelo “sangue do cordeiro” prega.

A PERSPECTIVA ISLÂMICA

Como se pode notar na análise acima, cada uma das premissas subjacentes à doutrina da expiação vicária tem, no mínimo, um alicerce instável. Sendo assim, talvez seja uma boa hora para vermos o que o Islã tem a dizer sobre essas questões.

Assim como diversos cristãos antigos, o Islã rejeita a ideia de que Jesus Cristo tenha sido crucificado. A base de tal rejeição encontra-se no Alcorão.

…E por seu dito: “Por certo, matamos o Messias, Jesus, Filho de Maria, Mensageiro de Deus. “Ora, eles não o mataram nem o crucificaram, mas isso lhes foi simulado. E, por certo, os que discrepam a seu respeito estão em dúvida acerca disso. Eles não têm ciência alguma disso, senão conjeturas, que seguem. E não o mataram, seguramente. Mas, Deus ascendeu-o até Ele. E Deus é Todo-Poderoso, Sábio. (Alcorão 4:157-158)

Assim como o judaísmo e o cristianismo oriental, o islamismo rejeita o conceito do pecado original. Mas o islamismo vai além e nos ensina que Adão e Eva eram igualmente culpados, ao decidirem comer do fruto proibido, negando assim completamente a base da degradação da mulher pregada pelo cristianismo ocidental. Isto pode ser visto pelo uso dos pronomes no plural, nos seguintes versículos:

Porém, Satã fê-los incorrer em erro (a tentação) e fê-los sair de onde estavam. (Alcorão 2:36a)

Além disso, o Alcorão especificamente declara que Deus perdoou Adão por sua transgressão inicial, removendo assim qualquer pecado que pudesse porventura ser herdado – como se fosse possível tal herança.

Então, Adão recebeu palavras de seu Senhor e Ele Se voltou para Adão, remindo-o. Por certo, Ele é O Remissório, O Misericordioso. (Alcorão 2:37)

Finalmente, em relação ao pecado original, tanto o Alcorão quanto os provérbios do Profeta Muhammad rejeitam o conceito de que os bebês nascem em pecado.

…Com efeito, criamos o ser humano na mais bela forma. (Alcorão 95:4)

Está relatado pela autoridade de Abu Mu’awiya que (o Profeta Sagrado) disse: “Todo recém-nascido vem ao mundo no millat (do Islã e) ali permanece até que sua língua seja capaz de se expressar (Muslim, hadith nº 6427)

O Alcorão também destaca que cada pessoa será responsabilizada por seu próprio comportamento e que nenhuma outra pessoa poderá arcar com o fardo do comportamento em pecado que uma pessoa tenha acumulado; a salvação intercessória é uma esperança em vão.

…Que nenhuma alma pecadora arque com o pecado de outra, e que não haja para o ser humano senão o que adquire com seu (próprio) esforço – e que seu esforço será visto, e será recompensado (a cada pessoa) integralmente… (Alcorão 53:38-41)

Nesse dia, a intercessão não beneficiará senão a quem O Misericordioso permitir (interceder) e àquele de quem Ele Se agradar, em dito. (Alcorão 20:109)

Mais uma vez, o que te faz inteirar-te do Dia do Juízo? Um dia, em que alma nenhuma nada poderá fazer por outra alma. E a ordem, nesse dia, será tão somente de Deus. (Alcorão 82:18-19)

No âmbito do islamismo, a salvação é vista como uma contingência mediante a crença da pessoa na absoluta unidade e singularidade de Deus. Mas a fé sem obras não é o suficiente. Considerando-se a presença da crença monoteísta, o julgamento final tem como base a ponderação do comportamento e as intenções de cada pessoa durante toda sua vida. Felizmente, para todos os seguidores, essa ponderação é feita com extrema serenidade pela abundante misericórdia de Deus.

Quem chega com a boa ação terá dez vezes seu equivalente, e quem chega com a má ação não será recompensado senão com seu equivalente. E eles não sofrerão injustiça. (Alcorão 6:160)

(Este é um trecho do livro "É fácil compreender o Islã")

Clique abaixo para ler o capítulo da amostra do livro

Começo

Seção I: Os fundamentos

O que o islamismo não é

O que é o Islamismo?

Seção II: Artigos gerais

Por que existem o mal e o sofrimento?

O Alcorão, a Ciência Moderna e Mais

Por que crer em Deus – A voz de um muçulmano

Islamismo e racismo

Islamismo: Uma solução para os problemas sociais da América?

Deus e os muçulmanos

Algumas virtudes dos muçulmanos (Alcorão)

Algumas virtudes muçulmanas (Palavras do Profeta)

Seção III: Islamismo e cristianismo

Semelhanças

Fundamentos em comum: judaísmo, cristianismo e islamismo

Diferenças

Muhammad na Bíblia

Trindade

Jesus: Homem e Deus?

Expiação vicária pelo “Sangue do cordeiro”

A Bíblia e a ciência moderna

A Bíblia e a Palavra de Deus

Alcorão preservado?

Seção IV: Outros temas

O islamismo e o meio ambiente

O Islamismo e os tóxicos

Paraíso e inferno

Perdão

Seção V

Site na internet


1 Para ver uma discussão mais detalhada sobre este assunto, bem como um texto das passagens citadas acima dos diversos livros apócrifos do Novo Testamento, consulte Dirks, JF: “The Cross and the Crescent”. Beltsville, Amana Publications, 2001. Capítulo 5.